Marcelo Dutra da Silva
Pauta racial e avanços que esperamos ver na agenda ESG das empresas
Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
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O racismo estrutural é perverso, silencioso e muito dolorido. É de uma intensidade tão íntima que só é verdadeiramente compreendido por aqueles que vivem a experiência de pele negra. Uma dor que brancos e privilegiados não são capazes de avaliar com clareza. E a depender do que se busca defender, corremos o risco de reproduzir o modelo que nos trouxe até aqui, pois tendemos a justificar o racismo de forma racista, mesmo sem intenção.
A natureza do racismo não é algo básico e carrega elementos históricos de formação cultural. Precisamos entender que somos um País de povos originários, sobrepujados pela colonização, que explorou mão de obra escrava. É por aí que tudo começa, mesmo que este também seja um País de imigrantes, de oportunidades e conquistas na luta por direitos, igualdade e liberdade.
O Brasil é aberto para o mundo, de gente pacífica e hospitaleira, mas nem por isso menos complexo. Vivemos assombrados pela intolerância, preconceito e falta de empatia. A questão racial se coloca bem ao centro de tudo isso e não adianta fazer de conta que não existe. Quem não acompanhou o caso da mulher negra que foi expulsa do voo, momentos após ao embarque? Uma abordagem agressiva por parte da tripulação e um tratamento que claramente esbarrou no racismo estrutural, que está presente na vida da gente e nas atitudes que alguns assumem no ambiente de trabalho.
Então, mesmo que não exista a intenção, esta força está lá e é contra isso que precisamos lutar em todos os espaços possíveis. O Pacto de Promoção da Equidade Racial publicou, em junho de 2022, o primeiro relatório da análise (índice) da situação atual e evolução dos 25 setores da economia, conforme o IBGE, na contratação e promoção de pessoas negras.
O Índice ESG de Equidade Racial Setorial (IEERS) foi criado para servir como referência para as empresas que desejam combater a desigualdade racial. É um conjunto de diretrizes para que as empresas possam estabelecer suas próprias metas de desenvolvimento e atingir seus objetivos, dentro do protocolo ESG racial. O primeiro resultado apresentado pelo índice mostra que houve uma evolução significativa da ocupação de negros em todos os setores da economia, porém essa evolução ainda é bastante tímida em relação aos cargos de gerências e diretorias.
As empresas podem se autoavaliar dentro do IEERS. Uma empresa do setor de construção civil, por exemplo, se quiser saber como está posicionada em relação às outras empresas que atuam no mercado, apenas precisa verificar os indicadores do setor de construção e se comparar, em relação aos seus números. Aliás, seria ótimo que cada empresa interessada buscasse fazer este exercício. Mais do que isso, que buscassem aderir ao Pacto, para apoio na realização dos cálculos, projeção na mudança de cultura e ampla difusão dos resultados.
A pauta racial do ESG está incluída no S de social do Environmental, Social (S) and corporate Governance. É uma pauta de longo prazo, na qual a empresa se compromete com significativas mudanças de hábito, valorização e contratação inclusiva. A presença equitativa de negros nos postos de trabalho e em posições de liderança compõe os objetivos do desenvolvimento sustentável e o caminho mais curto para quebrarmos as estruturas do racismo no Brasil.
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